Novo sucesso na Netflix, 'O Eternauta' é uma adaptação da história em quadrinhos de mesmo nome escrita por Héctor Germán Oesterheld; confira!
Publicado em 12/05/2025, às 18h00 - Atualizado em 14/05/2025, às 07h11
Recentemente, uma nova série que vem chamando a atenção entre os brasileiros que assinam Netflix é 'O Eternauta'. Dividida em seis episódios, ela é uma adaptação da história em quadrinhos homônima, a mais famosa e influente da Argentina, publicada originalmente em 1957 e de autoria de Héctor Germán Oesterheld.
"Após nevasca mortal matar milhões de pessoas, Juan Salvo e um grupo de sobreviventes enfrentam ameaça alienígena controlada por força invisível. À beira da extinção, quem sobreviveu precisa desvendar o mistério; ou desaparecer para sempre", segundo a sinopse da série. Confira o trailer:
Porém, engana-se quem pensa que 'O Eternauta' merece o título de "história em quadrinhos mais famosa da Argentina" apenas por uma narrativa envolvente e previsões malucas de ficção científica. Na verdade, toda a história por trás de sua criação e da vida de seu autor são peça fundamental para entender o todo da obra.
Visto isso, confira a seguir 5 curiosidades sobre 'O Eternauta':
Logo no início de 'O Eternauta', vemos que Buenos Aires é assolada por uma misteriosa nevasca mortal que surge de repente, e eventualmente as pessoas descobrem que é tóxica, após grande parte da população ser dizimada. Nesse cenário caótico e apocalíptico, os sobreviventes são forçados a viver isolados e a lutar por recursos — e entre eles, temos como protagonista Juan Salvo.
O que coloca os contornos mais evidentes de ficção científica na série é que, eventualmente, os sobreviventes acabam descobrindo que a nevasca era apenas o primeiro ataque de um exército alienígena que invadia a Terra, buscando dominá-la.
Para se opor à "ocupação", os sobreviventes formam a "resistência", e precisam lidar com várias ameaças, que vão desde insetos gigantes, humanoides com muitos dedos, bestas gigantes capazes de derrubar prédios e até humanos controlados pelos invasores.
Filho de imigrantes, Héctor Germán Oesterheld era casado com Elsa Sánchez, com quem teve quatro filhas: Estela, Diana, Martina e Beatriz. Durante sua juventude, ele chegou a simpatizar com o Partido Comunista, mas se desiludiu com o grupo, considerando que ele se afastou dos trabalhadores e do povo, e se aliado a setores da oligarquia, do imperialismo e do liberalismo positivista.
Por isso, ele se aproximou de setores mais combativos de esquerda, como o peronismo, e integrou a organização político-militar Montoneros. Em sua carreira, também criou histórias em quadrinhos sobre Che Guevara e outras publicações conduzido pelos Montoneros, servindo como uma grande voz para o movimento esquerdista de sua época e para o discurso anti-imperialista.
Com a chegada da ditadura militar da Argentina, que começou em 24 de março de 1976 — ou seja, quase duas décadas após a primeira publicação de 'O Eternauta' —, começou um período de grande repressão a movimentos de oposição no país. E, curiosamente, a história em quadrinhos pôde servir como uma triste metáfora do futuro do país.
Isso porque, com a obra, Oesterheld basicamente fez uma recriação das invasões imperialistas ministradas pelos Estados Unidos na América Latina — que, hoje, sabemos ter relação também com as várias ditaduras militares simultâneas —, que buscavam eliminar autoridades constitucionais e os ideais revolucionários anti-imperialistas.
Tanto que, curiosamente, o autor empregou em sua história termos bastante característicos à época, como "companheiros", "irmandade" ou "solidariedade".
Ficção científica, criaturas modificadas, neve tóxica, invasão alienígena, imperialismo... São vários temas complicados abordados em 'O Eternauta', mas afinal, o que significa esse nome, e quem é o eternauta?
Primeiramente, sobre a própria construção da palavra, "eter" se refere ao éter, ao eterno, enquanto "nauta" é um sufixo originário do grego "nautês", que significa navegador. Ou seja, em resumo, "o eternauta" pode ser entendido como "o viajante da eternidade" — o que é uma referência especificamente a uma habilidade que Juan Salvo só consegue posteriormente, com um dispositivo de viagem no tempo.
Mesmo sendo lançado quase 20 anos antes da chegada da ditadura militar, 'O Eternauta' e o próprio Héctor Oesterheld foram uma pedra no sapato dos militares, devido aos ideais que ambos disseminavam. E esta, que é considerada a mais violenta ditadura da América do Sul, foi implacável.
No dia 27 de abril de 1977, Oesterheld foi perseguido e preso pelos militares, bem como suas quatro filhas — das quais, duas estavam grávidas — e seus quatro genros. E desde então, todos apenas se tornaram nomes na longa lista de "desaparecidos" durante a ditadura.
Novo sucesso na Netflix, 'O Eternauta' — inspirado em história em quadrinhos de mesmo nome — vem conquistando o público brasileiro com uma trama de ficção científica extremamente tensa, com catástrofe climática, neo-imperialismo, alienígenas e viagem no tempo. A obra foi criada pelo argentino Héctor Germán Oesterheld, e serviu como uma previsão brutal dos horrores que o país viveria duas décadas depois, com a ditadura militar.
