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Conheça a história de Maria lina Trenes, jovem assassinada pelo namorado em novembro de 1889 que acabou virando santa popular
No dia 12 de novembro de 1889, Porto Alegre foi palco de um crime brutal. Em uma época em que a expressão "violência de gênero" sequer era mencionada, Maria lina Trenes, uma jovem imigrante alemã de 21 anos, foi assassinada pelo próprio companheiro, o soldado da Brigada Militar Bruno Soares Bicudo.
O crime ocorreu durante um piquenique no Morro do Hospício — hoje conhecido como Morro Maria da Conceição —, local que mais tarde se tornaria sagrado para muitos moradores da capital gaúcha.
Como destaca o portal Terra, o assassinato foi motivado por ciúmes. Soldados que estavam presentes na ocasião com suas namoradas — e que foram também responsáveis pela prisão do colega — afirmaram que Maria teria expressado o desejo de se afastar de Bruno e seguir sua vida com outro homem.
"Todos sabiam que eles formavam um casal, tanto que justificaram não terem separado a briga, porque falaram que era uma briga muito recorrente. Sobre o motivo da briga, eles dizem que ela teria falado que tinha outro homem com quem ela poderia ficar, ela teria dito que tinha esse direito e preferia o outro. A briga teria se acalmado. Então, Bruno Bicudo esperou as pessoas se afastarem e a matou", disse a historiadora Carine Medeiros Trindade, ouvida pelo portal do Instituto Humanitas Unisinos.
O julgamento foi rápido e, em fevereiro de 1900, Bruno foi condenado por homicídio doloso. Morreu na prisão sete anos depois, vítima de problemas renais. Mas a história não terminou com sua condenação.
Na verdade, o crime brutal chamou a atenção da população local de tal forma que, com o ar do tempo, Maria lina se tornou Maria Degolada, uma figura mítica venerada como santa popular.
Sem reconhecimento oficial da Igreja Católica, a devoção a Maria Degolada floresceu às margens da fé institucional. Em 1940, começou a surgir um movimento espontâneo de homenagens, promessas e agradecimentos. A comunidade ergueu então uma pequena capela no local do crime, que até hoje recebe velas, placas e flores. O local se transformou em um santuário informal, especialmente para as mulheres da região.
Acredita-se, curiosamente, que Maria Degolada não atenda aos pedidos feitos por policiais. Inclusive, para muitos, ela é uma santa que protege o povo marginalizado da violência do próprio Estado.
"Há muito tempo se acredita que ela atende aos pedidos da comunidade e quando a comunidade diz que ela não atende a polícia, de certa forma, ela se torna uma santa protetora da comunidade contra a violência policial”, explica a professora Carla de Moura, que realizou, junto a um grupo de estudantes, um projeto que visava refletir sobre a história de Maria Degolada.
O trabalho, realizado no ano de 2016, foi premiado pela Associação Nacional de História (Anpuh) e contribuiu para o tombamento simbólico da gruta onde Maria é cultuada. Mais tarde, resultou no documentário "As Marias da Conceição – Por um ensino de história situado."
Curiosamente, circula um boato de que Maria teria sido prostituta. Essa versão, que aparece em parte da imprensa e até em verbetes da Wikipédia, não encontra respaldo nos documentos do julgamento, sendo baseada apenas na fala de seu assassino. Muitos acreditam que essa narrativa foi construída pela defesa de Bruno para desmoralizá-la e justificar o crime.
De acordo com Trindade, o boato pode, inclusive, ter contribuído para a transformação da jovem em santa. "Há alguns casos em que as mulheres se transformam em santa pela morte trágica. São as santas populares. A imagem de santificação nasce porque a purificação teria sido com a morte. E por que purificação? Porque se espalhou a ideia de que ela seria prostituta", disse historiadora.
"Isso talvez tenha sido um artifício da defesa de Bruno para dizer que, como prostituta, ela não tinha uma vida digna, não tinha o recato necessário e era ível de um crime de ciúmes", destacou.
Assim como Maria Degolada, há outros exemplos marcantes de santas populares não reconhecidas oficialmente pela Igreja, cuja história também foi associada à prostituição. Entre elas, destacam-se Maria Bueno, de Curitiba, e Maria do Carmo, de São Borja. Além dessa ligação com a prostituição, essas figuras compartilham outro traço comum: são veneradas por fiéis de diferentes tradições religiosas, incluindo católicos, evangélicos e praticantes de religiões afro-brasileiras