Delineador de 2.700 é primeiro uso conhecido de grafite em maquiagem para olhos, e revela hábitos de higiene pessoal das elites da Idade do Ferro do Irã
Publicado em 11/06/2025, às 08h54
Durante escavações em um cemitério da Idade do Ferro em Kani Koter, na província do Curdistão, no Irã, arqueólogos se surpreenderam com a descoberta de um pequeno recipiente de kohl, uma maquiagem tradicional para olhos usada em todo o antigo Oriente Médio. Datado de 2.700 anos atrás, este mero pote de "delineador" antigo nos oferece ideia dos hábitos de higiene pessoal das elites da Idade do Ferro.
O cemitério remonta aos século 9 a.C. a 7 a.C.. Localizado no extremo leste do antigo Império Assírio, ele continha artefatos relacionados a membros de alto status naquela sociedade, que incluem armas, joias, equipamentos para cavalos e itens de higiene pessoal.
Mas certamente o que mais chamou atenção foi um recipiente de cerâmica com uma substância preta e pulverulenta em seu interior. A partir de técnicas de laboratório avançadas, os pesquisadores examinaram seu conteúdo, a fim de descobrir os componentes usados no cosmético antigo.
Conforme descrito em estudo, publicado na revista Archaeometry, para a fabricação do kohl em questão foi utilizada uma mistura de minerais até então desconhecida em outras receitas: uma combinação de óxidos de manganês e grafite natural.
Segundo o Archaeology News, o kohl possui uma história bastante longa em todo o mundo antigo, com destaque ao Egito, onde era utilizado tanto para fins estéticos quanto medicinais. Suas receitas mais tradicionais utilizavam chumbo, que lhe conferia uma tonalidade preta profunda, e por isso a amostra de Kani Koter chama atenção, visto que não utiliza chumbo integralmente.
Em vez disso, a cor preta foi obtida com pirolusita, um mineral rico em manganês, e com grafite, uma substância à base de carbono que hoje é bastante comum em lápis — mas extremamente rara em cosméticos antigos.
Com isso, a descoberta se mostra bastante significativa, visto que esse não é apenas o primeiro uso conhecido de grafite em kohl, como também sugere uma adaptação dos povos locais. O que os pesquisadores sugerem é que a combinação se deu através da aparência e da disponibilidade de materiais na região — e as Montanhas Zagros, próximas ao cemitério, possuem justamente manganês e grafite naturais, de onde artesãos da Idade do Ferro podem ter retirado recursos.
Outro aspecto que o estudo destaca é que, em termos funcionais, o grafite teria dado um apelo visual à maquiagem, visto que sua propriedade reflexiva proporcionava um brilho metálico, além de sua estrutura em camadas possibilitar uma boa aderência à pele.
Vale destacar também que não foi identificado qualquer composto orgânico na amostra, vegetal ou animal, embora os pesquisadores ainda acreditem na possibilidade de que tenha existido algum material orgânico originalmente, que se degradou ao longo dos séculos.
Além disso, vale destacar que o próprio recipiente cosmético foi encontrado em um sepultamento da elite, que também contava com joias de prata, um espelho de bronze e aplicadores de marfim. Nesse contexto, nota-se a importância cultural da aparência, entre as elites da Idade do Ferro, independente do gênero — visto que obras de arte do período assírio mostram tanto homens quanto mulheres com maquiagem nos olhos, conferindo ao kohl uso estético, simbólico e possivelmente até medicinal.
Por fim, ao contrário de outros sítios arqueológicos encontrados no Irã e na Mesopotâmia antigos, a descoberta de Kani Koter é relevante por contribuir para um crescente conjunto de evidências de tradições cosméticas da região. Com a descoberta de um kohl com manganês e grafite, é possível supor que a variação seja adaptada aos gostos, recursos e talvez até às tendências de moda locais.
Assim, a descoberta aprofunda ainda mais o conhecimento sobre a tradição de higiene da Idade do Ferro, além de revelar mais sobre como os povos antigos expressavam identidade, beleza e status, com o delineador brilhante com grafite ao redor dos olhos.
